sábado, 26 de abril de 2014

PATUÁS E AMULETOS NA UMBANDA

(Texto enviado por Tátila)

Olá pessoal,
Gostaria de falar um pouco sobre um assunto que é muito falado na umbanda, mas pouco conhecido na sua história e sentido real.
Irmãos, sempre que estamos reunidos, e por vezes em meio a um trabalho espiritual, escutamos a Vovó Antonieta dizer: ¨ Quem não pode com minha mandinga não carrega meu patuá!¨ Lembram-se dessa frase tão falada por nossa Vovó? Pois é! Saber o que significa, tenho certeza que todos sabemos mas, saber o fundamento verdadeiro dessa frase e o porquê desses velhos sábios utilizarem tanto esse dizer é o que veremos a seguir, ok?
Beijos e vamos lá!
ASSUNTO DE HOJE:

¨QUEM NÃO AGUENTA COM MANDINGA,
NÃO CARREGA PATUÁ! ¨


Quem não tem curiosidade em saber o que vem a ser um patuá? Na maioria das vezes, sempre que escutamos a palavra mandinga somos levados a pensar que essa palavra surgiu para se referir a feitiço, até como sinônimo, não é mesmo? Realmente, essa palavra tem certo feitiço, mas não é tão simples assim.
Mandinga era um grupo africano do norte que por sua proximidade com os árabes acabou se tornando um grupo que tem por base a lei dos mulçumanos.
Com o desenvolvimento do tráfico negreiro, muitos negros mandingas vieram para as Américas, vitimas da ambição dos brancos. Como os negros mandingas eram mulçumanos, muitos desses escravos sabiam ler e escrever em árabe, além de conhecer a matemática melhor do que os brancos, seus senhores.
Este estado superior da cultura dos mandingas, fez com que esses negros com conhecimentos maiores que a maioria dos brancos da época, fossem rotulados pelos brancos como feiticeiros forçando um afastamento cada vez maior do negro junto à sociedade branca, passando a expressão mandinga a sinônimo de feitiço.
Por outro lado, os negros que praticavam o culto dos orixás eram vistos como infiéis pelos negros mulçumanos. Os negros mulçumanos tinham um tratamento muito diferenciado pelos seus senhores da época. Aproveitando dessa rivalidade e precisando passar aos mandingas funções superiores devido a sua falta de conhecimento, os brancos faziam de tudo para aumentar cada vez mais a rivalidade entre os negros mulçumanos e os outros negros africanos.
Um grande exemplo e que era rapidamente percebido dessa diferença era quanto à alimentação e à prática da religião. Os negros mandingas possuíam uma alimentação mais selecionada enquanto os outros negros comiam restos dos seus senhores. Aos negros mulçumanos era permitido a não ingestão de carne de porco pois sua religião não permitia e, para aumentar e separar esses negros em dois grupos cada vez mais rivais, aos outros era obrigatório ingerir carne de porco e seus restos.
Na parte do trabalho escravo, muitos desses negros ocupavam funções de escrita dos livros dos senhores ou se tornavam feitores enquanto os outros trabalhavam em serviços braçais.
Com a passar do tempo, os negros começaram a se aproximar e a se respeitar. Eles se uniram em uma grande corrente e aprenderam a respeitar suas diferenças e igualdades. Aprenderam a respeitar sua cor sem admitir falta de respeito ou mentira em nome da religião, fosse ela a baseada nos orixás ou no alcorão.
Os negros mandingas sempre foram muito rigorosos com suas leis (a lei do mulçumano é baseada no alcorão e tem por base a parte política, religiosa e material ditada em seus livros e deve ser seguida rigorosamente com punições sérias a quem desrespeita seus fundamentos). Um grande exemplo desse rigor naquela época era em relação à fuga de um negro.
 Quando um escravo negro pretendia fugir, o negro mandingueiro era diferenciado e percebido pela sua forma de apresentação no preparo da fuga. O negro africano de raiz era temido pela sua força física e disposição para lutas armadas até a morte.
O negro mandingueiro, tendo sido rotulado pelos brancos como um grande feiticeiro, além de se preparar para lutar sem armas, só podia fazer uso da capoeira e do maculelê. Para serem notados como NEGROS MANDINGA, seus cabelos tinham que ser enrolados como carapinhas e deviam pendurar um patuá no pescoço (uma trouxinha amarrada com dizeres do alcorão para dar segurança e proteção ao negro que usasse). Agora, se fossem abordados por outro negro mandingueiro e esse negro fujão não soubesse responder em árabe, seria descarregado sobre ele toda a fúria das tribos mandingueiras. Utilizar a religião e a fé dos negros de uma forma errada e mentirosa era morte com sofrimentos sérios causados pelos próprios negros.
Foi a partir dessa história real que surgiu a expressão: “Quem não pode com mandinga não carrega patuá.”.
Para os negros africanos desde aquela época até a data de hoje o patuá sempre foi considerado um objeto consagrado que traz em si o axé, a força mágica do Orixá, do santo católico ou guia de luz, a quem ele é consagrado.
Usado em torno do seu pescoço amarrado com um papel dizeres do alcorão ou em forma de trouxinhas com elementos dos seus respectivos orixás, todos os escravos negros, mulçumanos ou não, possuíam esse fundamento de segurança.  Eram considerados poderosos amuletos, que deveriam atrair bons fluidos e proteger dos infortúnios.
Quando os negros mulçumanos foram rotulados pelos brancos como feiticeiros, o patuá passou a ser um fator importante na classificação entre os dois grupos de negros. O patuá passou a ser um objeto temido e muito respeitado entre os brancos e feitores.
Hoje, os poderosos amuletos, representam bons fluidos e proteção. Com a formação dos primeiros templos de Umbanda e a possibilidade de um contato mais estreito com diversas entidades espirituais, as pessoas que buscavam proteção começaram a encontrar nesses objetos sagrados um apoio. Desde então as entidades de luz passaram a orientar sua elaboração, indicando quais objetos seriam incluídos na confecção do patuá e como se deveria proceder com eles para que recebessem seu axé, isto é, sua força mágica.
Geralmente, os elementos mais utilizados pelas entidades de Luz na confecção dos patuás são: figas de guiné, olho de boi, ferramentas dos orixás, fumo, pedras e fitas. As entidades abençoam através de rezas ou defumações e os objetos são fechados, formando uma almofadinha e entregues ao filho de fé com seu axé (sua força). Sem a bênção das entidades ou dos dirigentes os patuás não recebem o axé.
Como observação e aprendizado um pouco maior, cito aos meus irmãos essa observação estudada e pesquisada por mim, a respeito do Patuá na religião católica:
“Entre os católicos já era hábito utilizar um objeto ou fragmento que tivesse pertencido a um santo ou a um papa, até mesmo fragmentos de ossos de um mártir ou lascas de uma suposta cruz que teria sido a da crucificação de Jesus. Até mesmo terra, que era trazida pelos cruzados que voltavam da Terra Santa que utilizavam nesses relicários, eram considerados poderosos amuletos, que deveriam atrair bons fluidos e proteger dos infortúnios. Estes eram chamados de relicários. O nome relicário é originário do latim relicare-religar, que acabou por formar a palavra relíquia”.
Bom irmãos, que esse breve estudo tenha nos esclarecido um pouco sobre o que é um patuá, de onde ele veio e o porquê de ser utilizado na Umbanda. Tudo na Umbanda tem fundamento e um objetivo. E esse é mais um aprendizado em nossa busca pela evolução espiritual.
Obrigada pelo carinho e atenção.
Fiquem com Deus e que a missão se cumpra.
Mil beijos,
TÁTILA

3 comentários:

  1. Muito bom o esclarecimento! Tudo tem a sua razão de ser, os seus por quês! Muito bom! Desmistifica muito do que se pensa, muitas vezes maldosamente, do povo africano! Ótimo! Parabéns!

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  2. o patua pode ser dado com intuito de maldade e como remover a maldade

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