Orixas na Umbanda – Um pequeno estudo
Oi pessoal,
Hoje resolvi escrever sobre mais um assunto que chama minha atenção. Os
Orixás dentro da Umbanda.
Confesso que ainda tenho meus questionamentos, mas a cada dia, com a
graça de Deus e a explicação de várias mentes mais preparadas do que a minha,
venho conseguindo compreender melhor a respeito desse aspecto da minha
religião.
Então, nessas linhas, reúno algumas informações que adquiri através das
aulas da nossa guia espiritual, Vovó Antonieta da Bahia, através de instruções
valiosas da nossa dirigente, através da conversa com irmãos dentro da Nossa
Casa e através de pesquisa, feita na internet e nos livros que tenho aqui na
minha prateleira.
Bom, sendo assim, mãos à obra.
ORIXÁS NA UMBANDA
O equilíbrio entre as energias da natureza é a condição essencial para a
existência do planeta. É baseada nessas energias da Natureza que a Umbanda
realiza suas intervenções junto à evolução espiritual da Humanidade. O homem,
parte da natureza que o cerca, também atende às Leis dessa mesma natureza. Os
elementos básicos, fogo, água, ar e terra, misturados em diversas combinações,
dão origem a tudo aquilo que conhecemos e, por isso, são a base da formação da
vida.
Dentro da Umbanda, essas energias são denominadas Orixás, nome que tem origem
na cultura africana. Elas têm a
responsabilidade de equilibrar toda a natureza, além de conduzir a evolução do
mundo. São forças vindas diretamente da grandiosidade de Deus, criador de todas
as coisas.
O homem, espiritual ou material, é constituído de elementos da natureza,
cada um em uma proporção. Assim, podemos dizer que somos frutos dessa energia
que emana de Deus. Dessa forma, cada um dos seres que habitam o Universo tem,
em sua formação, influência das energias da natureza, ou seja, dos Orixás.
Assim nós, seres espirituais em forma de matéria, somos influenciados
pela ação dessas energias desde o momento da nossa criação por Deus. Quando nossa
personalidade começa a ser definida, essas energias divinas nos abraçam com
amor e nos orientam em nossa formação e no caminho da evolução. Essas
vibrações, em cada encarnação, moldam nossa personalidade de acordo com a energia
dominante necessária para cada tipo de evolução.
Segundo Vovó Antonieta da Bahia, a energia principal que rege cada
pessoa, a qual conhecemos como a “dona” da nossa coroa, nos acompanha desde a
formação de nosso Espírito; esta segue conosco durante todo o processo
evolutivo no ambiente terreno. A outra energia principal que nos rege (ao todo
são quatro, mas aqui me refiro aos dois principais) é direcionada segundo a
missão que vamos realizar e pode mudar ou permanecer a mesma ao longo de nosso
processo evolutivo, dando as características da personalidade que assumimos em
nossas vidas.
Os Orixás não representam deuses, uma vez que foi Deus, que em sua obra,
as criou. Sendo assim, precisamos ter em mente algo muito importante a respeito
dos Orixás na Umbanda: A Umbanda é MONOTEÍSTA, ou seja, acredita em apenas um
Deus, o que nos leva novamente a concluir que os Orixás na Umbanda não são
deuses.
A partir daí vem aquelas perguntas que por muitas vezes já me peguei
fazendo: Se é monoteísta, por que a gente louva os Orixás, canta para eles,
comemora seus dias festivos, faz orações pedindo graças a eles? Por que fazemos
oferendas e pedimos para que eles nos ajudem no nosso caminho? Essas e outras
perguntas, pretendo tentar responder a seguir.
Peço licença aos amigos que estão lendo essas linhas para utilizar o
exemplo do que acontece com a Igreja Católica: No Catolicismo, que também é
monoteísta, diversos santos são lembrados, com seus dias, suas histórias, seus
cânticos. As pessoas acreditam na força de cada um deles e muitas vezes voltam
suas orações apenas para eles, pedindo ajuda ou força para seu caminhar. Será
que esse costume dos amigos católicos faz com que eles não sejam monoteístas? A
resposta é não. Os santos para eles não são como deuses, mas sim como exemplos
de homens que conseguiram se distinguir em meio aos outros, por terem
reconhecido a plenitude do verdadeiro e único Deus, em algum momento de suas
vidas. Acreditam que através dos santos, através de sua intersecção, eles
conseguirão alcançar Deus com maior facilidade.
Da mesma forma, podemos nos referir aos Orixás na Umbanda. Não são
santos, não foram homens (com exceção de Oxalá), não viveram, não vieram à Terra;
mas através de sua força, da energia que transmitem, os homens ficam
fortalecidos para vencer os obstáculos à evolução com mais facilidade.
Como conversamos anteriormente, a Umbanda é uma religião brasileira, com
manifestação de espíritos que viveram em terras brasileiras. Sabemos,
entretanto, que muitos desses espíritos vieram diretamente do continente
africano ou possuíram ancestrais africanos. Alguns, inclusive, eram reis, rainhas,
príncipes e princesas em suas terras (como por exemplo o nosso amado Rei Congo,
a escrava Anastácia, a vovó Antonieta, cuja mãe era rainha na África, entre
outros). Sendo assim, já possuíam suas crenças e costumes que trouxeram para o
povo brasileiro através de sua religião, de seu linguajar, de seus hábitos,
passando de geração à geração através dos anos de trabalho nas lavouras de cana
e café. Os senhores de escravo, com a “pseudo-justificativa” de catequizar os
povos africanos, traziam os negros para o Brasil para lhes ensinar sua religião
e aproveitavam sua mão-de-obra no campo.
Segundo Lara Lannes, em texto publicado no site “Genuína Umbanda”, ‘os
negros traziam em seu interior, a crença nos Orixás, porém não podiam
manifestá-la pelo preconceito de seus senhores, que consideravam tal culto,
heresia ou feitiçaria’. Desta forma, foram introduzindo sua crença no culto
Católico praticado pelos senhores brasileiros, associando cada uma das suas
divindades aos santos católicos cultuados na época. Ainda, segundo o autor,
essa associação entre os Santos Católicos e as Divindades africanas foi
possível para eles porque os escravos escondiam dentro dos santos católicos, as
pedras representativas de cada uma das divindades africanas. Naquela época, não
praticavam a Umbanda, mas o seu próprio ritual religioso africano, disfarçando
seus Orixás com as imagens disponíveis na época.
Com o passar dos anos, fez-se necessária a criação de uma religião
brasileira, na qual os Espíritos dos sábios escravos, dos índios, entre outros,
pudessem se manifestar para a prática da caridade. A essa religião denominaram UMBANDA.
Baseada nos ensinamentos cristãos, a Umbanda trouxe para o conhecimento dos
homens da Terra toda a sabedoria dos antigos que viveram no Brasil. Dentro
dessa sabedoria, seus conhecimentos trazidos da África ou de seus antepassados
continuaram dentro de seus corações e com eles a idéia de Orixá trazida para a
Umbanda se fez presente.
Mesmo muitas vezes utilizando o mesmo nome na Umbanda e nos cultos
essencialmente africanos, os Orixás se diferem bastante em cada uma das
religiões. No culto africano, acredita-se que Deus, no caso Olorum, haveria
designado um representante para governar as forças da natureza aqui na Terra.
Assim, cada Orixá seria o intermediário de cada aspecto do mundo natural e,
quando o homem cultuasse o seu deus (no caso, o Orixá), estaria cultuando
também as forças elementares existentes em toda face da terra (trovões, raios,
chuvas, ventos, folhas, fertilidade da terra, o reino vegetal, o reino animal e
etc.). Já na Umbanda, entendemos os Orixás como representantes dos Elementos da
natureza, não como deuses.
Daí vem a pergunta.... Então, por que devemos utilizar seus nomes
africanos ao invés de invocarmos as forças da Natureza?
A resposta para essa pergunta é que não devemos utilizar seus nomes, mas
sim, podemos utilizar. Um motivo bastante forte para sua utilização é pelo
respeito que temos pela crença daqueles que nos guiam. Os sábios pretos-velhos
praticavam os cultos africanos nas senzalas, adotando os Orixás-deuses, como
vimos. Se essa denominação faz parte de tudo o que aprenderam, por que não
utilizá-la, uma vez que a Umbanda não a condena? O fato de utilizarmos o nome
dos Orixás na Umbanda não significa que eles sejam os mesmos dos cultos
africanos. Apenas uma representação, trazida da África e difundida entre os
escravos, para designar as energias da natureza manipuladas na religião
brasileira. As raízes das entidades de Umbanda, apesar de brasileiras, surgiram
na africanas. O sincretismo com os Orixás é parte do conhecimento inerente aos
velhos sábios e nada mais coerente do que respeitá-los durante os trabalhos
espirituais.
Da mesma forma que os nomes dos Orixás são utilizados pela tradição
aprendida pelos escravos, as imagens também são. Sincretizadas com os santos
Católicos, as suas imagens ocupam local no altar do umbandista, representando
as forças envolvidas na formação energética do templo em questão. Essas
imagens, além de seguir o conhecimento dos antigos escravos, elas vêm auxiliar
a compreensão da liturgia de Umbanda pelos frequentadores das casas religiosas.
Há a permissão para o uso das imagens sincretizadas, não pela necessidade
delas, mas porque elas ajudam aos membros e assistentes da casa a concentrarem
suas súplicas em algo concreto. Para muitos seria bastante complicado ter que
direcionar suas orações aos elementos da natureza, que são abstratos. Outro motivo para que se usem imagens
sincretizadas é porque não há aquelas que representem um Orixá dentro da
Umbanda. Seria lindo dispor elementos da natureza, como o fogo, a lama e o
trovão sobre o altar, mas ao mesmo tempo ficaria bastante complicado fazer.
Ainda outro motivo se refere ao fato de que, para aquele que nunca
visitou uma casa de Umbanda, ao chegar com seus receios e medos, torna-se mais
confortável à compreensão, a visualização de símbolos que automaticamente
reconheçam como sendo sagrados, o que faz com que abram seus corações para o
entendimento sobre a religião que estão conhecendo.
Ainda sobre os Orixás na Umbanda, é importante dizer que estes não são
incorporados nos centros umbandistas. Um de seus mensageiros (falangeiros),
trabalhando sob sua energia, é quem se apresenta nos rituais. Orixás são
representações das energias da natureza. São muito mais do que apenas um
Espírito, um reino, ou qualquer coisa que tentemos definir individualmente. Sendo
assim, entende-se porque Orixás não falam, não dão conselhos, não fumam, não
bebem. As entidades que trabalham na Umbanda, ligadas à energia de cada Orixá,
as quais são Espíritos, podem sim, se apresentar individualmente e aconselhar
os presentes.
Ainda, é importante entender que, quando os Orixás se manifestam na
Umbanda através de seus falangeiros, vêm fazendo movimentos característicos
representantes do elemento ao qual estão diretamente ligados. Suas danças
ritualísticas têm por base a cultura africana e, seus movimentos são baseados
naqueles antes desenvolvidos pelos Orixás, representantes dos Deuses e
cultuados pelos ancestrais da cultura afro-brasileira. Sendo assim, os
capangueiros trazem consigo os movimentos que remetem aos elementos da
natureza, se utilizando de gesticulações, posturas e sons anteriormente
utilizados pelos cultos que precederam a Umbanda.
Outro aspecto bastante curioso quando tratamos sobre Orixás na Umbanda é
o que chamamos de oferendas. Por que fazer oferendas aos Orixás se eles
representam energias da natureza? Respondo a essa pergunta dizendo aos leitores
dessas linhas que, na verdade, não fazemos oferendas. Ninguém coloca um
barquinho no mar para agradar Iemanjá ou faz qualquer tipo de agrado à alguém.
O que acontece muitas vezes é que, devido à necessidade do trabalho em uma casa
espiritual, o médium de Umbanda precisa estar fortalecido em seu aspecto
energético. Sendo assim, deposita flores, velas e água (utilizamos apenas esses
elementos em Nossa Casa) em um local da natureza. Essa prática acontece com a
finalidade de que haja uma renovação da energia necessária ao médium, através
da corrente vibratória criada pelos elementos físicos utilizados, pelo local onde
se deposita e pela oração sincera. Portanto, Iemanjá não fica feliz com as
flores que você manda em seu barquinho, mas sim, você recarrega as suas energias,
através da vibração característica do elemento da natureza que Iemanjá
representa.
Outra questão bastante interessante sobre o ponto de vista de Orixá na
Umbanda é o que se refere à Oxalá. Segundo a Revista Espírita de Umbanda, o
nome Oxalá tem origem na palavra Orixalá, que significa orixá dos orixás.
Dentro da Umbanda está sincretizado com a imagem de Jesus Cristo, que foi um
grande mensageiro da Luz, trazendo a consciência sobre a vida espiritual para
aqueles que se entendiam limitados pela matéria.
Apesar de Jesus ter encarnado no mundo terreno, o que não aconteceu com
os outros Orixás para a Umbanda, Oxalá é considerado o Orixá supremo. Isso se
dá porque na Umbanda, Jesus é significado de energia pura sendo relacionado ao
Orixá da criação. Desta forma, Oxalá traz consigo a característica de ser o pai
de todos os outros Orixás, criador de todas as outras energias. Oxalá, tanto na
Umbanda, quanto no Candomblé representa a formação da Humanidade na Terra, por
isso é equiparado à Jesus, manifestação suprema do amor de Deus enviada à Terra.
Assim, Oxalá traz consigo a energia capaz de atuar em todos os outros campos de
vibração existentes na natureza.
A questão dos Orixás serem relacionados com as cores, os dias e algumas
ervas dentro da Umbanda, diz respeito também a uma questão de vibração
energética. Esse assuntos e alguns outros, vamos discutir mais à frente nos
próximos estudos que faremos!
Além de tudo que tratamos nessas linhas de hoje, há diversos assuntos
ainda bastante curiosos a respeito dos Orixás na Umbanda, que poderemos estudar
para aprender um pouco mais sobre essas energias que comandam a vida na Terra.
Por hoje, o importante é ter em mente a importância das energias da natureza no
fortalecimento dos seres que habitam o mundo. Sendo assim, além do respeito à
essas forças supremas, precisamos ter atenção e cuidado para que as energias
emanadas por esses seres iluminados fluam bem através dos nossos corpos
fluídicos, garantindo o equilíbrio entre corpo e espírito, tão importante para
prática da mediunidade no trabalho caritativo de Umbanda!
Obrigada a todos por lerem com carinho essas linhas que rabisco...
Com amor, Nise.
São Pedro da Aldeia, 04 de Junho de 2012.