História inspirada por Vovó Benta
No Templo de Umbanda
Vozes de Aruanda
Terreiro Filiado ao Centro
Espiritualista Caboclo Pery
Constantemente os benfeitores
espirituais nos colocam situações, diante das quais percebemos a grandiosidade
dessa da técnica de desdobramento astral, conhecida como apometria, na cura. Aliada ao Evangelho de Jesus, nos torna não
somente instrumentos curadores, como também manipuladores e transformadores de
energias. Tais situações nos fazem perceber nossa pequenez diante da grandiosidade
do Universo e desses comandantes que nos regem a nível espiritual. Todos os
dias, sob todos os aspectos, temos tudo a aprender consolidando a realidade de estar
encarnado nesse abençoado planeta-escola com uma oportunidade da qual não
podemos desdenhar.
Naquela
noite, após o atendimento normal da agenda, apresentou-se um espírito pedindo
oportunidade para nos contar sua história. Estava acompanhado por um preto
velho, o qual já conhecíamos pois era trabalhador da Casa. Pelo cordão
brilhante que saía de sua nuca, deduzimos tratar-se de um ser encarnado em
desdobramento do sono, o que imediatamente suscitou dúvidas em nossa mente
acostumada a tudo interrogar.
–
Como poderia alguém encarnado estar ali presente se não havíamos solicitado
pelos costumeiros “pulsos energéticos” o seu desdobramento? Captando a dúvida,
o bondoso preto velho nos assegurou de que ele não vinha para atendimento, e
sim, sob sua tutela para nos trazer aprendizado. Ligado ao médium, o nosso
amigo iniciou sua narrativa:
- Encarcerado dentro de um corpo frágil e adoentado, além da idiotia que me acomete no físico, sou uma espécie diferente aos olhos dos que passam pela rua e me vêem sentado na porta de minha casa.
- Encarcerado dentro de um corpo frágil e adoentado, além da idiotia que me acomete no físico, sou uma espécie diferente aos olhos dos que passam pela rua e me vêem sentado na porta de minha casa.
- “Coitado!
Seria melhor morrer” - É comum ouvir esta frase. Ou então, a mãe passando com o
filho pela mão, naturalmente manifesta:
- “Meu
filho, se você não obedecer, vou te entregar para aquele homem feio”.
Outras
vezes, mulheres grávidas evitam olhar-me para que seus bebês que foram
projetados perfeitos e saudáveis, não venham a ser iguais a esta bestialidade
humana.
Minha
consciência mais profunda está recebendo e percebendo tudo isso, porém presa
dentro da cela que eu mesmo criei no passado, não posso reagir. Se sofro com
isso hoje? É inevitável. Se me revolto? Não, a minha consciência sabe que é um
mal necessário.
Nas poucas vezes em que me é permitido
"voar" para longe deste corpo eu já tenho caminho traçado. Vou me
refugiar nos braços de Pai Tomé. Lá está ele, na sua humilde tenda,
cantarolando ou assobiando, enquanto mexe nas suas ervas. Negro velho
mandingueiro sabe quando chego, sente minha presença e trata logo de sentar-se
em seu toco, acender o pito e com uma risada gostosa inicia a doutrinação.
Conversamos por horas a fio e saio de lá me sentindo gente, apesar de tudo. Não
sei quando foi a primeira vez que o visitei. Acho que na noite em que minha mãe
foi àquele Centro de Umbanda, desesperada pois achou que desta vez a convulsão
iria me matar. Ele estava lá, incorporado em outra pessoa e me deu seu
"endereço".
Hoje,
a cada visita que meu espírito faz ao bom negro velho, algo se modifica no meu
corpo físico. Já consegui deixar de babar constantemente, melhorando assim meu
aspecto. Até já sou capaz de chorar, sem fazer aquele grunhido horrível, vejam
só! Tudo por conta das mandingas de Pai Tomé que por saber de minha verdadeira
história, me ajuda com muito amor.
Precisou
que eu quebrasse meu orgulho para aceitar tal ajuda, pois estou em colheita de
um plantio desastroso. Em encarnação anterior, vivi como feitor de uma rica
fazenda e com maldade cobrindo meu coração, além de outras coisas, eu era um
verdadeiro matador de aluguel. Cheguei ao cúmulo de fazer filho com escrava
para poder vender mestiço nas feiras do porto, como "escravo
especial". Hoje estou tendo essa benéfica oportunidade e mesmo encarcerado
num corpo limitado, com uma mente debilitada, de cor negra, aspecto físico sem
nenhum atrativo, servindo de modelo do ridículo para muita gente, estou
aprendendo que tenho muito mais do que mereço.
Um
dia desses, chorei muito quando Pai Tomé me fez relembrar quem foi ele naquela
minha desastrosa encarnação, e por momentos me senti muito mal, vindo a ter
fortes convulsões no físico. Não fosse o bom velho me chamar à realidade, teria
desencarnado para fugir...
Ele
foi naquele passado um "mestiço especial" que eu vendera como
escravo.
Não
há nada mais doloroso do que a fúria de um remorso. Dores ou limitações físicas
são um pequeno nada para uma encarnação, diante de lembranças de nossos
plantios infames.
Pai Tomé, entre outras coisas me
ensina o auto-perdão e sobre a bondade divina em nos dar um corpo físico aliado
ao esquecimento. Mas me ensina também que esse "esquecimento" não
pode servir como desculpa para novos erros. Por isso, somos levados em espírito
durante o sono para verificar certos pontos que precisam ser revistos em nossa
história. Ele me diz que nem sempre lembramos do aprendizado sonambúlico, mas
que ele está registrado à nossa disposição, para uso em momentos propícios.
Me
restam alguns anos ainda nessa vida, porém nem a dor, a pobreza e o desleixo de
meus familiares é pior do que imaginar voltando sem ter expurgado esse lixo
todo que agreguei no meu corpo espiritual. Quero a renovação e se essa me custa
tanto, sei que o preço fui eu mesmo que estipulei. Nada me foi imposto.
Colheitas...
de um plantio impensado. Apenas colheitas!
Após
despedir-se agradecido, aquele menino voltou ao seu corpo físico que dormia no
leito pobre onde nascera, deixando-nos emocionados e calados. Todos retornamos
aos nossos lares pensativos, refletindo sobre o que ouvíramos naquela noite.
Em
ocasião posterior, o caso foi comentado e alguém nos propôs que deveríamos
solicitar ao Pai Tomé um atendimento apométrico para o menino, uma vez que
estando encarnado, isso possibilitaria uma melhora dos sintomas físicos. Com as
técnicas decoradas, já deduzimos que tratando seu Corpo Astral, por ser ele o
Modelo Organizador Biológico, poderíamos quem sabe, melhorar sua aparência. No
final do debate, antes do encerramento sentimos forte cheiro de ervas e
imediatamente Pai Tomé apresentou-se através de um médium e nos esclareceu:
-
“Pai velho admira e abraça os filhos pela boa vontade demonstrada em auxiliar o
meu menino. Mas posso afirmar que a tentativa seria muito proveitosa em
espírito renitente na aceitação do resgate cármico a que se impôs, o que não
acontece com ele. Como viram, meu menino está espiritualmente lúcido e
aceitando a colheita. Seu Corpo Astral, por ser constituído de matéria
moldável, foi plasmado em encarnação anterior por seus próprios atos insanos.
Sempre é assim meus irmãos. Enquanto
na carne, nossos atos e pensamentos modelam a nova encarnação, além de nos
conduzir no após morte para estância de luz ou trevas. Deus não castiga
ninguém, disso sois sabedores, Ele apenas nos deu o livre-arbítrio e todas as
oportunidades de escolhas nos são colocadas à frente durante uma vida. Não nos
faltará assistência espiritual e mesmo que seja através da dor, o expurgo se
faz necessário para drenar do agregado espiritual os ácidos ali impregnados.
Nossos
pensamentos modelam o nosso futuro Corpo Mental, nossas emoções o Corpo Astral
e assim quando reencarnamos trazemos gravados em nossos átomos aquilo que
precisa ser melhorado. Por isso surgem as dificuldades a serem vencidas e, não
haveria mérito se aqui estivéssemos só para sofrer sem que isso trouxesse
alguma lição e aprendizado.
Essa drenagem se dá através do nosso
Corpo Etérico que intermediando o Corpo Físico e o Corpo Astral, atua como
usina recicladora através do trabalho dos nossos Chakras, repassando para o
Corpo Físico que age como mata-borrão. Todas as doenças, sejam físicas ou
psíquicas nada mais são que limpeza de nosso corpo espiritual como um todo. Por
isso aconselho os filhos dessa Seara para que sempre respeitem as leis em
qualquer atendimento ou ajuda a que forem induzidos. Procurem sempre verificar
se existe interesse e vontade em receber essa ajuda da apometria, seja pela
pessoa necessitada se essa estiver consciente, ou por parte de familiares
quando esse estiver incapacitado de raciocínio próprio, para que não
ultrapassem a barreira do livre-arbítrio, contrariando assim as Leis Divinas.
Sois sabedores que Apometria é
manipulação energética. E energia é coisa séria meus filhos, assim como ela nos
dá o poder de provocar uma modificação na matéria, através do poder mental,
sendo regida pela lei da causalidade produzirá sempre um efeito, seja imediato
ou tardio. Existem coisas no Universo de meu Deus que podem e devem ser
mudadas, mas sempre respeitando a vontade e exigindo esforço próprio de cada
criatura ligada ao fato. Porém, Essa prática deve sempre ser colocada à luz da
razão, nunca querendo realizar “milagres” que possam comprometer o trabalho
laborioso do grupo, adquirindo com isso um carma coletivo. O equilíbrio e a compreensão
de limite, aliados à sabedoria e o amor serão os temperos que farão sempre com
que os filhos possam auxiliar sem se macular.
Mais
uma vez a lição do bom amigo espiritual colocada com tanta humildade e
sabedoria, fez com que vários membros do grupo que ainda tinham preconceito com
a presença dos pretos velhos nos trabalhos de cura através de desdobramento
astral, repensassem sobre isso.
Fiquem em Paz.
(Texto enviado por Wânia)