(Texto enviado por Tátila)
Olá pessoal,
Gostaria de falar um
pouco sobre um assunto que é muito falado na umbanda, mas pouco conhecido na
sua história e sentido real.
Irmãos, sempre que
estamos reunidos, e por vezes em meio a um trabalho espiritual, escutamos a
Vovó Antonieta dizer: ¨ Quem não pode com minha mandinga não carrega meu patuá!¨
Lembram-se dessa frase tão falada por nossa Vovó? Pois é! Saber o que
significa, tenho certeza que todos sabemos mas, saber o fundamento verdadeiro
dessa frase e o porquê desses velhos sábios utilizarem tanto esse dizer é o que
veremos a seguir, ok?
Beijos e vamos lá!
ASSUNTO
DE HOJE:
¨QUEM
NÃO AGUENTA COM MANDINGA,
NÃO CARREGA PATUÁ! ¨
Quem não tem
curiosidade em saber o que vem a ser um patuá? Na maioria das vezes, sempre que
escutamos a palavra mandinga somos levados a pensar que essa palavra surgiu
para se referir a feitiço, até como sinônimo, não é mesmo? Realmente, essa
palavra tem certo feitiço, mas não é tão simples assim.
Mandinga era um grupo
africano do norte que por sua proximidade com os árabes acabou se tornando um
grupo que tem por base a lei dos mulçumanos.
Com o desenvolvimento
do tráfico negreiro, muitos negros mandingas vieram para as Américas, vitimas
da ambição dos brancos. Como os negros mandingas eram mulçumanos, muitos desses
escravos sabiam ler e escrever em árabe, além de conhecer a matemática melhor
do que os brancos, seus senhores.
Este estado superior da
cultura dos mandingas, fez com que esses negros com conhecimentos maiores que a
maioria dos brancos da época, fossem rotulados pelos brancos como feiticeiros forçando
um afastamento cada vez maior do negro junto à sociedade branca, passando a
expressão mandinga a sinônimo de feitiço.
Por outro lado, os
negros que praticavam o culto dos orixás eram vistos como infiéis pelos negros
mulçumanos. Os negros mulçumanos tinham um tratamento muito diferenciado pelos
seus senhores da época. Aproveitando dessa rivalidade e precisando passar aos
mandingas funções superiores devido a sua falta de conhecimento, os brancos faziam
de tudo para aumentar cada vez mais a rivalidade entre os negros mulçumanos e
os outros negros africanos.
Um grande exemplo e que
era rapidamente percebido dessa diferença era quanto à alimentação e à prática
da religião. Os negros mandingas possuíam uma alimentação mais selecionada
enquanto os outros negros comiam restos dos seus senhores. Aos negros
mulçumanos era permitido a não ingestão de carne de porco pois sua religião não
permitia e, para aumentar e separar esses negros em dois grupos cada vez mais
rivais, aos outros era obrigatório ingerir carne de porco e seus restos.
Na parte do trabalho
escravo, muitos desses negros ocupavam funções de escrita dos livros dos
senhores ou se tornavam feitores enquanto os outros trabalhavam em serviços
braçais.
Com a passar do tempo,
os negros começaram a se aproximar e a se respeitar. Eles se uniram em uma
grande corrente e aprenderam a respeitar suas diferenças e igualdades. Aprenderam
a respeitar sua cor sem admitir falta de respeito ou mentira em nome da
religião, fosse ela a baseada nos orixás ou no alcorão.
Os negros mandingas
sempre foram muito rigorosos com suas leis (a lei do mulçumano é baseada no
alcorão e tem por base a parte política, religiosa e material ditada em seus
livros e deve ser seguida rigorosamente com punições sérias a quem desrespeita
seus fundamentos). Um grande exemplo desse rigor naquela época era em relação à
fuga de um negro.
Quando um escravo negro pretendia fugir, o
negro mandingueiro era diferenciado e percebido pela sua forma de apresentação
no preparo da fuga. O negro africano de raiz era temido pela sua força física e
disposição para lutas armadas até a morte.
O negro mandingueiro,
tendo sido rotulado pelos brancos como um grande feiticeiro, além de se
preparar para lutar sem armas, só podia fazer uso da capoeira e do maculelê. Para
serem notados como NEGROS MANDINGA, seus cabelos tinham que ser enrolados como
carapinhas e deviam pendurar um patuá no pescoço (uma trouxinha amarrada com
dizeres do alcorão para dar segurança e proteção ao negro que usasse). Agora,
se fossem abordados por outro negro mandingueiro e esse negro fujão não
soubesse responder em árabe, seria descarregado sobre ele toda a fúria das
tribos mandingueiras. Utilizar a religião e a fé dos negros de uma forma errada
e mentirosa era morte com sofrimentos sérios causados pelos próprios negros.
Foi a partir dessa
história real que surgiu a expressão: “Quem não pode com mandinga não carrega patuá.”.
Para os negros africanos desde aquela época até a data de
hoje o patuá sempre foi considerado um objeto consagrado que traz em si o axé,
a força mágica do Orixá, do santo católico ou guia de luz, a quem ele é
consagrado.
Usado em
torno do seu pescoço amarrado com um papel dizeres do alcorão ou em forma de
trouxinhas com elementos dos seus respectivos orixás, todos os escravos negros,
mulçumanos ou não, possuíam esse fundamento de segurança. Eram considerados poderosos amuletos, que
deveriam atrair bons fluidos e proteger dos infortúnios.
Quando os negros mulçumanos foram rotulados pelos brancos
como feiticeiros, o patuá passou a ser um fator importante na classificação
entre os dois grupos de negros. O patuá passou a ser um objeto temido e muito
respeitado entre os brancos e feitores.
Hoje, os poderosos
amuletos, representam bons fluidos e proteção. Com a formação dos primeiros
templos de Umbanda e a possibilidade de um contato mais estreito com diversas
entidades espirituais, as pessoas que buscavam proteção começaram a encontrar nesses
objetos sagrados um apoio. Desde então as entidades de luz passaram a orientar
sua elaboração, indicando quais objetos seriam incluídos na confecção do patuá
e como se deveria proceder com eles para que recebessem seu axé, isto é, sua
força mágica.
Geralmente, os
elementos mais utilizados pelas entidades de Luz na confecção dos patuás são:
figas de guiné, olho de boi, ferramentas dos orixás, fumo, pedras e fitas. As
entidades abençoam através de rezas ou defumações e os objetos são fechados,
formando uma almofadinha e entregues ao filho de fé com seu axé (sua força).
Sem a bênção das entidades ou dos dirigentes os patuás não recebem o axé.
Como observação e aprendizado
um pouco maior, cito aos meus irmãos essa observação estudada e pesquisada por
mim, a respeito do Patuá na religião católica:
“Entre
os católicos já era hábito utilizar um objeto ou fragmento que tivesse
pertencido a um santo ou a um papa, até mesmo fragmentos de ossos de um mártir
ou lascas de uma suposta cruz que teria sido a da crucificação de Jesus. Até
mesmo terra, que era trazida pelos cruzados que voltavam da Terra Santa que
utilizavam nesses relicários, eram considerados poderosos amuletos, que
deveriam atrair bons fluidos e proteger dos infortúnios. Estes eram chamados de
relicários. O nome relicário é originário do latim relicare-religar, que acabou
por formar a palavra relíquia”.
Bom irmãos, que esse
breve estudo tenha nos esclarecido um pouco sobre o que é um patuá, de onde ele
veio e o porquê de ser utilizado na Umbanda. Tudo na Umbanda tem fundamento e
um objetivo. E esse é mais um aprendizado em nossa busca pela evolução
espiritual.
Obrigada pelo carinho e
atenção.
Fiquem com Deus e que a
missão se cumpra.
Mil beijos,
TÁTILA
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito bom o esclarecimento! Tudo tem a sua razão de ser, os seus por quês! Muito bom! Desmistifica muito do que se pensa, muitas vezes maldosamente, do povo africano! Ótimo! Parabéns!
ResponderExcluiro patua pode ser dado com intuito de maldade e como remover a maldade
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