Entretanto, mesmo em meio a essa falta de ligação entre os
membros da família, ainda havia Mariana, que nunca se dava por vencida e
procurava entender o mundo de vários pontos de vistas e com a alegria que lhe
era peculiar! Foi quando Mariana se tornou uma incrível jornalista. Sabem
aquelas jornalistas que não se cansam até encontrar a verdade dos fatos?
Daquelas que investigam a fundo os acontecimentos até que não haja mais dúvidas
sobre eles? Pois é. Mariana era assim. Excelente profissional, passou a
escrever sobre as artes, sobre o ser humano e sobre tudo aquilo que norteava o
comportamento das pessoas na sociedade. Estudou um pouco de tudo, de ciência,
de história, de psicologia e até mesmo um pouco das religiões. No seu íntimo,
ela buscava resposta para os seus anseios e tentava transmitir essas respostas
para todos através das da coluna que passou a publicar na Superinteressante.
Apesar do seu sucesso profissional, o que mais chamava
atenção em si eram os conceitos que havia aprendido com sua mãe sobre a vida e
principalmente com sua avó Marizé. Era uma pessoa esclarecida e tinha a sua fé
forte dentro do coração. Apesar de sua criação católica por Amélia, em suas
palavras deixava transparecer uma crença em algo ainda maior. Era comum ver
Mariana falando de energias positivas, de inspirações divinas e de algo que a
movia, que não vinha só de dentro pra fora, mas também do Universo para si,
como um sopro de vida que não se esgotava no seu próprio corpo, mas em algo
muito maior.
Mas como a vida por vezes nos reserva surpresas, com Mariana
também não foi diferente. Sua avó Marizé, já com idade bastante avançada,
acabou por fazer a passagem enquanto dormia certa noite. Foi um choque pra toda
família! Como Mariana sofreu aquela perda que parecia insuportável! Era ela que
auxiliava sua mãe naquele momento de dor em que também precisava de um ombro
amigo para encostar e chorar. E como um anjo em sua vida, apareceu Alice, sua
amiga de infância, que ao saber da sua perda, correu para perto de Mariana para
oferecer-lhe ajuda. Emprestou-lhe seus ouvidos por horas e horas para que ela
se sentisse melhor.
Alice era de uma família espírita bastante esclarecida sobre
a moral de Jesus. Ouvindo as lamentações tristes, mas também esperançosas, de
Mariana e observando que tudo aquilo que ela falava era muito próximo dos ensinamentos
aprendidos com sua família, Alice, na ânsia de ajudar Mariana a compreender
melhor aquele momento de angústia que ela passava, orientou a amiga a procurar
o centro espírita que seus pais frequentavam. E assim foi feito.
Mariana, que já não andava tão satisfeita com as explicações
que lhe eram oferecidas por sua religião, em sua eterna busca pelo entendimento
visitou o Centro Espírita Ramatis, onde passou a aprender sobre a Doutrina
Espírita. Compreendeu a vida após a morte e a presença dos espíritos em sua
vida e passou a aceitar melhor a falta que sua avó lhe fazia! Encantou-se por
todo aquele novo universo que se descortinava aos seus olhos e descobriu que
dentro de si também estava latente uma força que transcendia seu corpo e sua
mente... Descobriu-se médium.
Eram tantas sensações novas, tantas descobertas... Insaciável
como só ela, buscava sempre compreender mais e melhor. Estudava os livros. Lia
sobre as sensações da mediunidade. Mas tudo se descrevia de forma sutil. Bem
mais sutil do que a energia que passou a sentir percorrendo seu corpo e a
fazendo vibrar dentro daquela casa espírita. Em pouco tempo, começou novamente
a perceber que algo lhe faltava.
Faltava-lhe o contato. Faltava-lhe a troca da energia.
Faltava deixar fluir através de seu corpo as sensações que a natureza lhe
trazia. A vibração da sua casa espírita era maravilhosa. Mas o que sentia
dentro de seu coração é que essa energia se intensificava ainda mais quando
fazia suas orações em meio à natureza. O cheiro da mata a transformava. Pisar
na areia gelada no final da tarde a fazia arrepiar até o último fio de
cabelo... Era muito forte o que sentia. Questionava-se se as outras pessoas
sentiam da mesma forma. Resolveu então conversar sobre isso com Alice, que
então decidiu levá-la a um Centro Espírita Umbandista, que ficava no mesmo
bairro em que Mariana morava, logo ali, subindo a rua de sua casa. E assim
fizeram.
Chegando lá, Mariana se sentiu pisando sobre um solo sagrado
e aquelas energias que costumava perceber em meio à natureza, de repente
tomaram conta de seu corpo trazendo para si um turbilhão de fortes emoções que
nunca havia sentido anteriormente. Era como estivesse chegando em casa depois
de passar um longo tempo afastada. E ali ela teve a certeza! Era seu caminho.
Foi recebida pela dirigente daquela casa como uma filha
recém-chegada, que após uma longa jornada, retornava ao seio familiar. Sua
alegria era indescritível, mas a única coisa em que podia pensar naquele
momento era que o abraço de sua avó Marizé, que nunca mais pôde sentir, seria
dado a partir daquele momento pelos braços dos vovôs e vovós que cuidariam dela
dali em diante.
Sua satisfação era tão grande que não se continha em seus
próprios aprendizados. Passou a utilizar a sua coluna na revista para explicar
para outras pessoas aquilo que acontecia com ela, afinal, outros poderiam estar
passando por situações parecidas! O estudo se intensificava e com ele a sua
ligação com o mundo espiritual também.
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