(Título original: De olho na Ética Umbandista - Créditos ao final do texto)
Sabe quando algo te deixa vermelho
de vergonha, sem graça, com batimentos cardíacos alterados? É a reação física
quando você vai contra seus conceitos morais, seus valores. A Ética, que se
fala tanto na atualidade, é um conjunto de valores específicos de um grupo. Se,
ao pertencer a um grupo, eu entender os padrões morais que o regem, for contra
eles e não me envergonhar, terei que repensar minha participação no grupo ou
minhas atitudes.
É lógico que todos nós erramos, não
somos perfeitos, estamos em evolução constante. Assim como nosso rol de valores
não é petrificado, ele também evolui.
Uma mãe passa seus padrões morais a um filho para que ele não sofra ao se
adaptar à sociedade, para que seja feliz e livre. Na Umbanda, essa evolução de
valores é "limitada" dentro de certas fronteiras, as quais não podem
ser ultrapassadas: a fé , o amor e a caridade. Cada valor destes deve ser
entendido para que exerçamos com ética nossa religião.
Segue texto escrito por Mãe Lilian Maria
Dallastra:
Ética na Umbanda
Escrever alguma coisa sobre este
assunto requer mais do que um parágrafo, pois eu divido a Ética da Umbanda que
pratico em 3 pontos:
Ética Sacerdotal
Respeitar os fundamentos de outras
religiões e de outros Terreiros de Umbanda é premissa para ser ético como
sacerdote. A minha verdade temporária é o que aprendi até então com os guias
que me regem e tais ensinamentos permeiam o terreiro que dirijo. Além desta
margem respeito todos os terreiros e seus ideais, regras e fundamentos, assim
como espero que o terreiro que dirijo seja respeitado. Neste quesito, ser ético
é não julgar o que não lhe compete. Outros dois pontos que merecem citação é a
relação entre o pai ou mãe de santo e seus filhos. Além da discrição entre
assuntos confidenciais do filho para com seu pai ou mãe de santo, a relação
fraternal deve ser respeitada.
O que um filho de santo confidencia
ao seu dirigente é por confiar no mesmo. O ser humano tem como hábito (triste
hábito) a necessidade de contar um segredo que ouvir como forma de desabafo.
Instintivamente isso acontece. O melhor amigo conta um segredo para o amigo,
que conta para seu melhor amigo, que por sua vez conta para outro e por aí vai.
Um sacerdote precisa ser ético com a sua referência e não transferir o peso da
confissão para outro. A capacidade de ouvir e discernir sobre o assunto sem
devaneios e auxiliar o filho fazendo-o pensar em soluções e caminhos diferentes
sem interferir no livre arbítrio e em sigilo é papel do sacerdote umbandista.
- Ética dos Médiuns
Ser médium não é fácil justamente
por ser tão simples e ninguém acreditar nisso. Ser médium é não fazer
absolutamente nada que não seja ser instrumento nas mãos de um espírito de luz.
Sabiamente que todo médium deve
estudar e procurar mais conhecimento. Ler livros, ouvir depoimentos e tantas
outras fontes de conhecimento são maravilhosas oportunidade de aprendizado.
A mistura do “café com leite” (casamento
de energias do médium e do guia espiritual) é fato, mas separar o que você
pensa do que a entidade quer dizer é uma prática necessária e ética. Se o
consulente quisesse a sua opinião, falaria com você e não com um guia. Já fui
surpreendida algumas vezes quando minha resposta era A e a entidade queria
dizer B. Neste momento eu poderia intervir na consulta, mas não o fiz.
Assim também como a ética num
momento de consulta também é não quebrar regras da casa na qual você pertence.
A partir do momento que você aceita as regras de um terreiro, cabe à você ser
ético e cumpri-las. Além da ética está também a moral e os valores agregados ao
convívio com os demais.
Neste caso é muito simples ser
médium. Basta ser instrumento e não querer inventar moda. Passe a mensagem
do espírito e não queira ser mais que o espírito, pois o espírito certamente
não tem a vaidade que o médium tem muito menos a pretensão em querer falar além
do necessário.
É importante falar também que não é
ético por parte dos médiuns, saírem “posando de pai/mãe de santo”, quando “incorporados”
ou não dizendo frases do tipo:
- Eu sei com quem você trabalha! Se
eu fosse você pedia para jogar obi novamente, pois acho que você não é de Ogum,
é de Oxossi! Você viu aquele irmão que ficou no meio na hora de Ogum de Ronda?
Coitado, deve estar muito perdido... Tenho um recado da pomba-gira para você! Ei!
Eu sonhei com o seu caboclo de Oxóssi! Sei quem ele é! Sua cigana usa uma saia
azul com listras laranjas e bolinhas verdes!
Atitudes como esta são totalmente
antiéticas! Qual é o direito que uma pessoa tem de determinar o que é ou não é
para o outro médium? A vaidade faz as pessoas fazerem muitas coisas,
infelizmente. Hoje, como mãe de santo, não faço isso por não me achar no
direito de roubar o aprendizado do médium... Neste caso, ser ético é não se
intrometer no desenvolvimento do outro. Ser ético é ajudar seu irmão de
corrente em dificuldades sim, mas não se intrometer na espiritualidade.
Há pessoas que se julgam tão boas
na questão da adivinhação, desdobramento, clariaudiência, clarividência e
psicografia que não sei mesmo porque vão ao terreiro... Se possuem toda esta
mediunidade porque possuem tantos problemas ainda na sua vida carnal? Será que
com toda essa informação espiritual ainda não adquiriram o equilíbrio
necessário para se ajudar e ajudar os outros sem atrapalhar? Enfim...
A ética do médium se
resume em respeitar a Umbanda da Casa que pertence, não se intrometer na
espiritualidade dos outros e ser fiel as mensagens dos espíritos. Como falei lá no início do texto, é muito
simples... o médium é que complica tudo!
Ética entre as
religiões e terreiros
As religiões são responsáveis por
explicar a morte. Isto eu aprendi na faculdade. Além disso, agrego como função
das religiões a capacidade de explicar a nossa existência. Assim foram nascendo
as religiões, cada qual com suas intencionalidades e paradigmas.
Aqui me atenho à Umbanda, nascida
há mais de 100 anos, ainda um bebê. Aos 17 anos perambulei nas religiões para
me encontrar, mesmo sendo de outra religião desde pequena. Conhecendo várias me
encontrei na Umbanda. As pessoas deveriam fazer o mesmo antes de decidirem qual
religião seguir. A tradição passada de geração para geração é muito bonita,
desde que seja pela prática da liberdade.
Hoje vemos religiões se atacando.
Uma se dizendo ser melhor do que a outra. Medem a quantidade de fiéis, de
bens... Onde está a ética se uma religião prega que a outra não presta? A mesma
pergunta eu faço para quem fala mal de um terreiro ou de outro?
Esta ética entre os terreiros
também é muito simples: não fale mal dos outros, pois quem fala mal é espelho
da maldade. Propagar verdades inerentes aos fatos é o mesmo que cuspir para
cima. Muitas pessoas entram num terreiro falando mal de outro do qual saíram.
Isto é antiético. O dirigente já fica com o pé atrás... Mudar é preciso, mas
sair falando mal é maldade. Se algo não lhe serve, não use, mas também não saia
difamando. Seja ético!
O mesmo se dá em
relação aos dirigentes das Casas. Um dirigente que desfaz de outro é a mesma
coisa, tão simples como tudo o que já descrevi até agora. É medo de não ser
suficientemente bom para manter seus filhos na corrente e ajuda-los
verdadeiramente na caminhada ou puramente ego elevado.
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