OFERENDAS NA UMBANDA
Boa
noite amigos e irmãos,
Muito
se fala a respeito das diversas “macumbas” e “despachos” nas ruas e nas encruzilhadas...
Hoje
tentaremos, dentro do possível, explicar um pouco sobre o porquê das oferendas
e esclarecer sobre a sua real necessidade, desmistificando as expressões usadas
pelos leigos: “Vamos dar comida ao santo”, “Não mexe que é macumba!!!”, “Olha o
despacho na encruzilhada!!!”, entre outras.
Para iniciar nosso estudo transcrevi
uma estória extraída da apostila do curso de Arquétipos da Umbanda de Rodrigo
Queiroz:
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Oferendas nas matas da Jurema
(Ditado pelo Sr. Pajé Arranca Toco)
- “Venha filho, vamos caminhar”. Assim anunciou o velho pajé, balançando um maracá.
Quando me dei conta estava em meio a uma clareira em plena mata virgem, entre
árvores frondosas e maravilhas raramente vistas no plano físico da vida. Ele me
conduziu para uma estreita trilha.
- “Filho, vamos para uma
experiência importante; é necessário que não dê tanta importância à beleza do
lugar, mas sim que apure seus sentidos, sua visão, olfato, tato, paladar e também
tenha serenidade. Perceba a textura do chão no seu pé, a leveza das folhas em
suas mãos, o cheiro de ervas no ar e a brisa fresca a acariciar sua face”.
- “Posso sentir o gosto de seiva na
boca, pajé!”.
- “Isso é sinal que está próximo do
que quero filho”,..., “respire fundo e feche os olhos”...
- “Pajé, posso enxergar com os
olhos fechados!” – exclamei emocionado.
- “O que vê filho?”
- “Vejo troncos de luz, silfos,
salamandras, folhas irradiantes”...
- “Lentamente abra os olhos”, ele
me disse.
- “Sim”...
- “Continua vendo?”
- “Nitidamente pajé...”
-“O que vê, filho, é a vida neste
reino natural, tão mal percebida pelos encarnados e infelizmente entre os
próprios fiéis ao culto da natureza”.
- “Umbanda?” – perguntei.
- “Sim”, respondeu o pajé.
- “Apure sua visão e perceba que é
possível ver a seiva circular dentro das árvores, escutar o coração bater no
peito dos pássaros e experimentar a presença dos entes invisíveis ao olho
material, que são eles, os duendes, gnomos, fadas, silfos, ninfas e tanto mais”.
- “Quanta beleza pajé!”.
- “Quanta vida, filho, quanta vida!”
- “Sim, pulsante”...
- “Agora me acompanhe”, disse o
pajé.
Dirigimos-nos à outra clareira, lá havia muitas pessoas, vestidas de
branco, colares, atabaque e muitas frutas; logo notei que se tratava de um
terreiro pronto a iniciar uma atividade. Curioso fiquei a observar atentamente,
encantado com o toque harmônico da curimba e os raios de luz que espargiam pelo
ambiente em direção aos presentes a cada batida das mãos no couro. Alguns
outros se organizavam para, no meio da roda, depositar suas oferendas, muitas
frutas, velas, incensos, bebidas. Consegui visualizar a luminosidade áurica de
cada um, em cores e tons dos mais variados.
- “Filho, este grupo de cultuadores
da natureza divina, está realizando um culto de exaltação ao Sr das Matas”...
- “Pai Oxóssi!” – exclamei.
- “Sim, e para tanto é comum postar
oferendas em seu louvor; na Umbanda recorremos ao uso de elementos da natureza,
como frutas, pedras, bebidas, incenso, etc. Dispensando qualquer uso de
imolação de animais”.
- “Sei pajé, compreendo e tenho
para mim que é o correto; Sei ainda que somente os que cruzam o culto africano
com a Umbanda recorrem à prática da imolação...”
- “Sim filho. Porém não vamos
acessar esse assunto no momento, vamos nos ater a esta liturgia de hoje e
colher as impressões pertinentes”.
- “Sim senhor”.
Ele, calado, sacudia seu maracá e eu, observando tudo, via que as frutas
emitiam luzes e, quando cortadas, eram como uma caixa de luz aberta, que deixava
escapar de dentro um clarão e que, por alguns minutos, ficava ali por iluminar,
criando um campo de luz e energia indescritível.
Quando a curimba acelerou o toque, vi um portal se abrir na frente da oferenda
e dele dezenas de caboclos, caboclas e encantados saíram, abraçaram todos os
presentes, dançaram e cantaram. Realmente era uma festa, uma exaltação. Finalmente
entoaram o ponto:
“...A mata estava escura... e um anjo a iluminou... foi quando ouvi a linda voz do Senhor... E o
Pai Oxóssi ajoelhou... Mas ele é o rei, ele é o rei, ele é o rei...Mas ele é o
Rei da Aruanda ele é o Rei...”
As folhas no chão começaram a voar e as entidades presentes, em
reverência, levaram a cabeça ao chão; foi então que, como uma explosão, uma luz
cegante surgiu e se fez presente um emissário do Sr Oxóssi. Sua luz verde era
tão intensa que não pude me manter de cabeça levantada. Os caboclos, ajoelhados,
bradavam em reverência e louvor; do lado físico, alguns médiuns entravam em
transe energético e a curimba acelerava o toque. Poucos segundos passados a luz
cegante reapareceu e então o Sr. Oxóssi se recolheu.
No ponto da oferenda a luz era mais intensa.
Com os médiuns ajoelhados em oração, as entidades estendiam as mãos em
direção à oferenda e o inusitado acontecia. Dos elementos, saíam fluidos
esverdeados, que podiam ser moldados como massa de modelar, os quais eram
aplicados nos fiéis presentes. Rapidamente o fluido era absorvido pelos chakras
e a luminosidade do corpo áurico deles se tornava mais sutil e irradiava mais.
Por alguns minutos este procedimento ocorreu e as entidades se recolheram para
o portal mencionado.
- “Viu filho, nenhuma entidade
comeu as frutas”.
- “Mas eles não precisam comer?”
-“Não filho, compreenda que somos
de uma dimensão bem mais sutil que a de vocês; se nos aventurássemos a ingerir o
prana dos vegetais do plano físico, isso nos traria grande desarranjo
energético; O que precisamos para nos “alimentar”, encontramos em nossa esfera
e não na de vocês”.
- “Entendo”...
- “Entenda também que a necessidade
das oferendas são para vocês mesmos, que ao reencarnarem, perderam a capacidade
de extrair o prana da natureza e recorrem a esta prática para que nós, os
mentores, os auxiliemos na extração e aplicação da energia em vocês mesmos”.
- “Para que?”
- “A fim de sutilizar vossas
energias, equilibrar os chakras, curar doenças e muito mais. Também guardamos
para os médiuns usarem nos atendimentos”.
- “Pajé, de onde tiram tantas
teorias que só ajudam a complicar a compreensão?”
- Talvez das observações limitadas
ao próprio conhecimento; Ruim é quando saem do bom senso e fundamentam suas
teorias no absurdo”.
- “Podemos fazer sempre oferendas?”
- “Sim. Quando e onde bem entender.
Lá em cima, um de nós estará pronto a auxiliar na extração do prana”.
- “Incrível!!!”
- “Agora vamos filho, logo em breve
retomaremos esta prosa para aprofundamentos práticos; aproveite para ensinar
estas práticas...”
Acordei após estas palavras. Poderia ter sido um sonho... Quase como uma
revelação.
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O
ato de realizar oferendas é um costume universal muito antigo, que não se sabe
ao certo quando ou de onde se originou. Desde sempre o homem, no intuito de
buscar soluções para os seus conflitos, começou a ofertar às forças e aos poderes
superiores, pedindo em troca alguma forma de auxílio para seus problemas.
Com
o passar dos tempos, cada povo, cada religião se desenvolveu e evoluiu sua
forma de ofertar, criando rituais coletivos em locais, dias e horas marcados,
no intuito de receber algo de bom como retorno.
As
oferendas na Umbanda são parte de sua ritualística e estão relacionadas à
restituição, à purificação, à filtragem, ao equilíbrio e à movimentação de forças
energéticas que são necessárias à vitalidade do ser humano. Essa troca
energética ocorre com o uso dos quatro elementos da natureza: água, fogo, terra
e ar.
Estes
elementos da natureza podem ser representados fisicamente pelos seguintes
instrumentos ritualísticos: ÁGUA:
sucos, guaraná, sumos de ervas, chás, cerveja e etc; TERRA: frutas, raízes, legumes, verduras, fumo, ervas e etc; FOGO E AR: velas, incensos, defumação,
cigarro, cachimbo, charuto e etc. É importante saber que todos os elementos
colocados na oferenda adquirem poderes magísticos e são utilizados para o
benefício da pessoa que ofertou.
Os
efeitos de purificação e todos os benefícios da oferenda são “proporcionais” à
intenção e à energia com as quais se ofertou.
Segundo
Rubens Saraceni no seu livro Rituais
Umbandistas – Oferendas, Firmezas e Assentamentos, as oferendas são atos
magísticos-religiosos que podem ter as finalidades de agradecimento, pedido de
ajuda, desmanche de magias negativas, descarga, purificação, firmeza de força
na natureza e assentamento de forças e poderes espirituais e divinos.
Nós
umbandistas, quando necessário, devemos fazer nossa oferenda, porém não podemos
ser fanáticos, acreditando que somente conseguiremos resolver os nossos
problemas através de oferendas. Quase em todas as vezes, uma simples oração bem
intencionada pode fazer um milagre. Somente com a fé verdadeira podemos
realizar nossos sonhos e desejos.
Como
falei anteriormente, há momentos na vida do médium ou do consulente em que há necessidade
de uma troca energética mais intensa com os elementos da natureza. Essa necessidade
pode ser percebida pelo próprio médium, instruída pelas suas entidades ou ainda
pelos dirigentes ou pelos guias chefes de uma casa espiritual. Observada a
necessidade, é fundamental que o médium se instrua a respeito do que irá fazer,
sempre buscando conhecer os procedimentos para a realização de sua oferenda.
Esse conhecimento pode ser buscado com os dirigentes de casa e guias
espirituais, além das fontes de literaturas sérias que tratem sobre o assunto.
Um
ponto bastante importante que deve ser levado em conta hoje é a questão da
conscientização. É desaconselhável uma oferenda que polua e agrida a natureza,
por isso é importante que não deixemos garrafas, lixos ou materiais que não sejam
absorvidos pela natureza. Se a Umbanda, que trabalha com a natureza, não se
preocupar, quem se preocupará?
Outro
ponto a ser colocado é que na Umbanda não existe fundamento para o sacrifício
de animais. Esse tipo de oferenda não faz parte da Umbanda.
Por
fim, coloco uma receita de oferenda ditada por um caboclo, dirigente de uma
casa de Umbanda, para que os médiuns e consulentes possam ofertar ao seu Orixá
ou entidade espiritual:
Material
necessário:
- 01 pacote de amor, em pó, para
que qualquer brisa possa espalhar entre as pessoas que estiverem perto ou longe
de você;
- 01 pedaço (bem generoso) de fé,
em estado rochoso, para que ela seja inabalável;
- Algumas páginas de estudo doutrinário,
para que você possa entender as intuições que recebe;
- 01 pacote de desejo de fazer
caridade desinteressada, em retribuição, para não "desandar" a massa.
Modo
de Preparo:
Junte tudo isto num alguidar feito
com o barro da resignação e determinação e venha para o terreiro.
Coloque em frente ao Gongá e reze a
seguinte prece:
"Pai, recebe esta humilde
oferenda dada com a totalidade da minha alma e revigora o meu físico para que
eu possa ser um perfeito veículo dos teus enviados. Amém."
Abraço a todos, Magalhães.
Parab'ens pelo belo estudo!!!!
ResponderExcluirWânia
Bem bacana, né? Abraço!
ResponderExcluirLinda pagina. Muito obrigada pela oportunidade
ResponderExcluirBelíssimo texto. Após passar por vários e vários sites e páginas sobre a Umbanda, esse foi o melhor artigo que encontrei. Muito completo e explicativo. Parabéns!
ResponderExcluirObrigada por seu comentário. A função de nossa página é tentar levar um pouco do conhecimento que aprendemos em Nossa Casa. Volte mais vezes.
ResponderExcluirUm abraço fraterno,
FAMÍLIA CEENC