segunda-feira, 17 de novembro de 2014

HISTÓRIA DA UMBANDA - FUNDAÇÃO

(Texto enviado por Gisele)

Escrever sobre a Umbanda sem citarmos Zélio Fernandino de Moraes é praticamente impossível. Ele, assim como Allan Kardec, foram os intermediários escolhidos pelos Espíritos para divulgar a religião aos homens. Zélio Fernandino de Moraes nasceu no dia 10 de abril de 1891, no distrito de Neves, município de São Gonçalo – Rio de Janeiro.
 Aos dezessete anos, quando estava se preparando para servir às Forças Armadas através da Marinha, aconteceu um fato curioso: começou a falar em tom manso e com um sotaque diferente da sua região, parecendo um senhor com bastante idade. A princípio, a família achou que houvesse algum distúrbio mental e o encaminhou ao seu tio, Dr. Epaminondas de Moraes, Diretor do Hospício de Vargem.
 Após alguns dias de observação e não encontrando os seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu à família que o encaminhassem a um padre para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que o seu sobrinho estivesse possuído pelo demônio. Procuraram, então, um padre da família que após fazer ritual de exorcismo não conseguiu nenhum resultado.
 Tempos depois, Zélio foi acometido por uma estranha paralisia, para a qual os médicos não conseguiram encontrar a cura. Passado algum tempo, num ato surpreendente, Zélio ergueu-se do seu leito e declarou: “amanhã estarei curado”. No dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação.
 A mãe de Zélio, D. Leonor de Moraes, levou-o a uma curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida na região onde morava e que incorporava o Espírito de um preto velho chamado Tio Antônio. Este recebeu o rapaz e fazendo as suas rezas lhe disse que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com a caridade. O pai de Zélio de Moraes, Sr. Joaquim Fernandino Costa, apesar de não frequentar nenhum centro espírita, já era um adepto do espiritismo, praticante do hábito da leitura de literatura espírita.
 No dia 15 de novembro de 1908, por sugestão de um amigo de seu pai, Zélio foi levado à Federação Espírita de Niterói. Chegando ao local e convidado por José de Souza, dirigente daquela instituição, sentaram-se a mesa. Logo em seguida, contrariando as normas do culto realizado, Zélio levantou-se e disse que ali faltava uma flor. Foi até o jardim, apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa onde se realizava o trabalho.
 Tendo se iniciado uma estranha confusão no local, ele incorporou um Espírito e simultaneamente diversos médiuns presentes apresentaram incorporações de caboclos e pretos-velhos. Advertidos pelo dirigente do trabalho a entidade incorporada no rapaz perguntou: “-por que repelem a presença dos citados Espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens? Seria por causa das suas origens sociais e da cor?”.
 Após um vidente ver a luz que o Espírito irradiava perguntou: “-por que o irmão fala nesses termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de Espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala desse modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome meu irmão?” Ele responde: “-se julgam atrasados os Espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou.
Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim.” O vidente ainda pergunta: “-Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?” Novamente ele responde: “-Colocarei uma condessa em cada colina que atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei.”
 Depois de algum tempo todos ficaram sabendo que o jesuíta que o médium verificou pelos resquícios de sua veste no Espírito, em sua última encarnação, foi o Padre Gabriel Malagrida.
 No dia 16 de novembro de 1908, na Rua Floriano Peixoto, 30, Neves, São Gonçalo – RJ, aproximando-se das 20:00 horas, estavam presentes os membros da Federação Espírita, parentes, amigos e vizinhos e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.
 Pontualmente às 20:00 horas, o Caboclo das Sete Encruzilhadas desceu e usando as seguintes palavras iniciou o culto: “- aqui inicia-se um novo culto em que os Espíritos de pretos-velhos africanos, que haviam sido escravos e que, desencarnando, não encontraram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos de nossa Terra, poderão trabalhar em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo, ou posição social. A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, será a característica principal deste culto, que tem base no evangelho de Jesus, e como Mestre Supremo Cristo.”
Após as declarações acima, estabeleceu as normas que seriam utilizadas no culto, e as sessões diárias das 20:00 às 22:00 horas. Determinou, ainda, que os participantes deveriam estar vestidos de branco e que o atendimento a todos seria gratuito.
Disse também, que estava nascendo uma nova religião e que se chamaria Umbanda. O grupo que acabara de ser fundado recebeu o nome de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade e o Caboclo das Sete Encruzilhadas disse as seguintes palavras: “-assim como Maria acolhe em seus braços o filho, a Tenda acolherá aos que a ela recorrerem às horas de aflição; todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com aqueles Espíritos que sabem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos, e a nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai.”
O Caboclo ainda respondeu perguntas de sacerdotes que ali se encontravam, em latim e alemão. Atendeu um paralítico, fazendo este ficar curado e várias outras pessoas que se encontravam neste local, praticando suas curas.
No mesmo dia do primeiro culto, incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e, com palavras de muita sabedoria, humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar junto com os presentes à mesa, dizendo as seguintes palavras: “-Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá”.
 Após insistência dos presentes fala: “-num carece preocupá não. Nego fica no toco que é lugá di nêgo”. Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na Terra e ele responde: “-minha caximba; nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque buscá.” Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antônio, também, a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usada pelos membros da Tenda e, carinhosamente chamada de “Guia de Pai Antônio”.
 No outro dia, formou-se verdadeira romaria em frente da casa da família Moraes. Cegos, paralíticos e médiuns que eram dados como loucos foram curados. A partir destes fatos, fundou-se a Corrente Astral de Umbanda.
 Após algum tempo, manifestou-se um Espírito com o nome de Orixá Male, este responsável por desmanchar trabalhos de baixa magia, Espírito que, quando em demanda, era agitado e sábio, destruindo as energias maléficas dos que lhe procuravam.
 Dez anos depois, em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, recebendo ordens do Astral, fundou sete tendas para a propagação da Umbanda, sendo elas as seguintes: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia, Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, Tenda Espírita Santa Bárbara, Tenda Espírita São Pedro, Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge, Tenda Espírita São Jerônimo.
 As sete linhas foram ditadas para a formação da Umbanda. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de 10.000 tendas, a partir das acima mencionadas.
 Zélio nunca usou como profissão a mediunidade, sempre trabalhou para sustentar a sua família e muitas vezes manter os templos que o Caboclo fundou, além das pessoas que sustentavam a sua casa para os tratamentos espirituais que, segundo o que diziam, parecia um albergue.
 Nunca aceitar a ajuda monetária de ninguém era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele. O ritual sempre foi simples.
 As guias usadas eram apenas as determinadas pelas entidades que se manifestavam. A preparação dos médiuns era feita através de banhos de ervas e do ritual do amaci, isto é, a lavagem de cabeça, onde os filhos de Umbanda fazem a ligação com a vibração dos seus guias.
 Após 55 anos de atividade, entregou a direção dos trabalhos da Tenda Nossa Senhora da Piedade a suas filhas Zélia e Zilméia, as quais até hoje a dirigem.

 Mais tarde, junto com sua esposa Maria Isabel de Moraes, médium ativa da Tenda e instrumento do Cabloco Roxo, fundaram a Cabana de Pai Antônio, no distrito de Boca do Mato, município de Cachoeira do Macacú – RJ. Eles dirigiram os trabalhos enquanto a saúde de Zélio permitiu. Faleceu aos 84 anos, no dia 03 de outubro de 1975.

Pesquisa feita por LUCILIA GUIMARÃES E EDER LONGAS GARCIA.
(http://www.paimaneco.org.br/filosofia/historia-da-Umbanda)

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